Rapaz de 16 anos foi encontrado morto no último dia 24 de março. Família diz que o adolescente foi executado por policiais.
“Infelizmente nós não conseguimos chegar à autoria do crime. A gente sente muito! Fizemos tudo que poderia ser feito, dentro das possibilidades, enquanto Polícia Civil”, esta foi a declaração da delegada Katarina Feitosa, superintendente da Polícia Civil, sobre a conclusão do inquérito policial da morte de Jonatha Carvalho dos Anjos, de 16 anos, encontrado em um matagal no dia 24 de março deste ano. A família do adolescente acusa policiais em operação de terem executado o jovem e outros três homens, no dia 13 de março deste ano.
Na manhã de hoje (24) a Secretaria de Segurança Pública (SSP) reuniu a imprensa para divulgar o resultado das investigações. “Infelizmente existem crimes que a gente não consegue chegar à autoria. Isso não quer dizer que o inquérito tenha sido finalizado, encaminhado à Justiça e não vamos continuar em busca de evidências, de novos indícios e novos vestígios. Mas até o momento não conseguimos. Isto é frustrante, porque nossa missão constitucional é justamente a autoral, mas nem sempre se consegue chegar ao autor do crime. Infelizmente!”, emendou Katarina Feitosa.
A mãe de Jonatha diz que vai recorrer ao Supremo. Foto: Jorge Henrique/Equipe JC
Parentes do rapaz compareceram à coletiva de imprensa e, no momento em que o delegado Jonathas Evangelista – responsável pelas investigações – leu a conclusão do inquérito policial como autoria do crime desconhecida, o pai do garoto se retirou da sala aos prantos. “Não pode ser! Quero ir embora daqui, eu quero justiça!”, bradou Rosinaldo Araújo.
O delegado encaminhará ainda hoje à Justiça o relatório e as cópias do Inquérito Policial. Embora frustrados com a conclusão da polícia sergipana sobre a morte do garoto, familiares prometeram direcionar o caso agora ao Supremo Tribunal Federal.
“É um absurdo! Eu vim aqui fazer o que? Ouvir eles dizerem que não sabem quem matou o meu filho? Eu sabia que haveria uma superproteção. Você acha que os policiais iriam dizer que o meu filho estava dentro do carro [supostamente alvejado em trocas de tiro com policiais]? Vocês acham que eles iriam confessar que o menino estava no carro? É lógico que não! Mas não vai ficar por isso mesmo. Eu vou até Brasília cobrar justiça! Isso vai cair em rede nacional, para mostrar que o nosso estado infelizmente é uma negação em termo de justiça. Essa investigação no meu ponto de vista foi um fracasso. Não acabou em pizza, pelo contrário, agora que está começando. Vamos em busca da verdade. Eu quero saber quem matou o meu filho. Eu tenho esse direito como mãe e como cidadã”, desabafou Patrícia Ayres de Carvalho, que acompanhou de perto os cinco meses de investigação do caso.
Relembre o caso
No dia 13 de março deste ano, Jonatha desapareceu. Segundo o pai, Rosinaldo Araújo, o menino estaria junto com um trio que supostamente trocou tiros com policiais do Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia Militar, em uma rodovia estadual próximo ao povoado Tatu, em Japoatã, na madrugada do dia 14 de março.
Porém, o corpo de Jonatha só foi encontrado 11 dias após o confronto policial. O rapaz foi visto por populares, às margens de uma rodovia estadual, próximo ao povoado Novo Horizonte, no município de Neópolis – a poucos metros de onde ocorreu a suposta troca de tiros.
Na noite do tiroteio, Jonatha, Ricardo André Carvalho Pimentel e Anderson de Jesus Oliveira saíram de Aracaju em um automóvel GM Corsa Hatch, cor prata, com o objetivo de encontrar Eraldo Santos de Jesus – este último, suspeito de matar o policial militar Elder Freitas, no dia primeiro de março, no bairro Santa Maria, em Aracaju.
Com o conhecimento do paradeiro do suspeito da morte do PM, equipes da 9ª DM e COE se dirigiram ao local, onde armaram um bloqueio.
De acordo com a polícia, após abordagem aos suspeitos, houve o confronto, que resultou na morte de Erado, Anderson e Ricardo. Mas na coletiva com a imprensa na manhã de hoje não foi confirmado se o jovem Jonatha também estava no carro no momento do fogo.
Surge nova prova
O delegado Jonathas Evangelista, responsável pelo caso, apresentou o resultado do Inquérito Policial na manhã de hoje (24). Foto: Jorge Henrique/Equipe JC
De acordo com o delegado Jonathas Evangelista, uma prova nova teria surgido. A notícia da participação de um homem conhecido por ‘Bisqui’, que teria furado o bloqueio policial em Neópolis com um passageiro na garupa, pode resolver a questão. Esse homem, de acordo com Evangelista, poderia elucidar a morte de Jonatha. A Polícia Civil, juntamente com a inteligência da Polícia Militar, começaram a investigação para saber o paradeiro do Bisqui. “O Bisqui esclarecerá com certeza a morte do PM Elder Freitas, no Santa Maria, que já é um inquérito finalizado, assim como pode ajudar a esclarecer a morte do Jonatha. Mas também o Bisqui pode ser apenas um passageiro ou motociclista”, ponderou o delegado.
A moto deste quinto envolvido no caso nunca foi encontrada. A informação é de que, após cumprirem a diligência policial no bloqueio, policiais do COE saíram à procura da motocicleta, sem jamais localizá-la.
Corpo carbonizado
Embora o pai de Jonatha insista que o corpo de seu filho foi carbonizado, o delegado Jonathas Evangelista se apoiou em um dos laudos médicos do Instituto Médico Legal (IML), para dizer que as marcas de queimadura na pele do rapaz foi em decorrência do longo período de exposição ao sol que o corpo ficou. “As roupas dele não estavam queimadas. Ou seja, é uma evidência de que o menino não foi carbonizado. Ele foi vítima de traumatismo craniano, devido a um projétil em sua cabeça, segundo os laudos”, explicou Evangelista.
“A polícia deligenciou com o intuito de encontrar testemunhas oculares ou outras testemunhas que pudessem contribuir com a elucidação do caso. Mas infelizmente não encontramos”, concluiu o delegado.
Quando a possibilidade de o corpo de Jonatha ter sido desovado naquela estrada, Evangelista mais uma vez citou o laudo pericial para declarar que as análises deram a certeza de que o corpo foi encontrado naquele local, mas não afirma se aquela seria a cena do crime. “Isto é, o laudo abre a possibilidade de ter havido sim a desova”, admitiu.