Jovem, que tinha arritmia cardíaca, morreu em sala de aula em São Paulo. Polícia apura omissão de socorro. Alunos criticam demora; faculdade nega.
Colegas da estudante Angelita Pinto, que morreu na noite de quinta-feira (23) em uma sala de aula em São Paulo, se dizem revoltados. Para a analista de cadastro Roberta Reis Lima, de 28 anos, a amiga poderia ter sobrevivido caso tivesse sido levada imediatamente a um hospital ou se o socorro tivesse sido imediato. "Fiquei desesperada, queria colocá-la no meu carro e levar para o hospital, mas não deixaram tirá-la de lá e não chegavam para socorrer”, comenta Roberta. Angelita passou mal na unidade Itaim Bibi da Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). A amiga Roberta consta como testemunha em um boletim de ocorrência para investigar omissão de socorro contra a faculdade no 14º Distrito Policial. Nele, as testemunhas alegam que a faculdade demorou 15 minutos para acionar o Samu e dois inspetores teriam impedido que a aluna fosse levada para um hospital. Em nota (veja íntegra abaixo), a faculdade diz que acionou o socorro três minutos após a direção ser comunicada do fato.
De acordo com o marido de Angelita, o operador de off set José Carlos dos Santos, de 44 anos, ela sofria de arritmia cardíaca. Amigos relatam que o socorro demorou 40 minutos para chegar e que os alunos foram orientados a não remover a jovem. Os bombeiros dizem ter chegado ao local 17 minutos depois do primeiro chamado. "Se a gente estivesse no meio do mato, mas a gente estava no Itaim Bibi, um dos bairros nobres de São Paulo. Parece que estávamos na roça, que não tinha nada ao redor”, disse Roberta. Segundo ela, outra aluna foi orientada por telefone pelo Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) a fazer massagem no peito de Roberta enquanto a equipe não chegava ao local.
Segundo os estudantes do curso de Ciências Contábeis, amigos da vítima, o Samu levou 40 minutos para chegar na faculdade e Angelita, de 28 anos, que sofria de arritmia cardíaca, não resistiu. De acordo com Roberta, Angelita chegou atrasada na aula de ontem e se sentia muito cansada. Por volta das 21h30, a estudante começou a passar mal. “Ela ficou com a cabeça baixa e disse que a vista estava ficando turva. Depois, ela deitou no meu ombro e desmaiou totalmente, mas voltou com uma espécie de convulsão", conta.
“A revolta maior é que na faculdade não havia ninguém para fazer a massagem na faculdade. Eu acredito que ela teria uma chance de sobreviver se eu tivesse levado ela para o hospital”, disse.
A Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo informou que o Serviço Móvel de Atendimento de Urgência (Samu) demorou 19 minutos para chegar à faculdade. Antes disso, entretanto, uma equipe de motociclistas do Corpo de Bombeiros já prestava os primeiros socorros à universitária, segundo a secretaria. Os bombeiros afirmam que foram contatados às 21h49 e que chegaram ao local às 21h56.
Coordenador No boletim de ocorrência referente à morte de Angelita, o professor Sérgio Luís Conti, que aparece como coordenador do curso de ciências contábeis da FMU, afirmou que a unidade do Itaim Bibi da instituição de ensino não possui departamento médico nem enfermeira de plantão. Segundo ele, um bombeiro civil estava a postos. Conti, entretanto, informou que o profissional não prestou socorro à vítima.
A Secretaria da Saúde informou que não existe legislação municipal que obrigue a existência de ambulatórios em instituições de ensino, mas sim a obrigatoriedade de um desfibrilador em locais onde circulam entre 1 mil e 3 mil pessoas diariamente. A estudante deve ser enterrada no Cemitério Horto da Paz, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo. Processo O marido da estudante diz que vai processar a faculdade. “Não precisava nem ser o desfibrilador. Uma massagem adequada. Não tinha ninguém. Nas fotos, quem está fazendo [a massagem] são alunos e a médica do Samu estava passando por telefone como fazer. Se tivesse alguém da área médica, com certeza, ela não teria morrido”, afirmou.
A família pretende abrir um processo contra a faculdade. “Com certeza [pretendemos entrar na Justiça]. A parcela de culpa deles é muito grande. Só deram meus sentimentos. O que eles tinham que ter dado era atendimento na hora que ela passou mal. Uma faculdade de nome, não tem um plantão médico, não tem um médico, não tem nada”, declarou.
O marido conta que há cerca de um mês Angelita havia parado de tomar um medicamento para o problema de arritmia, que tinha desde criança. Ainda segundo Santos, o problema não era grave e não exigia intervenção cirúrgica. Como o remédio começou a provocar reações adversas e ela se sentia melhor, o médico disse que ela poderia suspender a medicação sem prejuízo para sua saúde. “Era um remédio fraquinho porque não era tão forte a arritmia dela, mas de um tempo pra cá ela não estava precisando mais. Ela estava levando uma vida normal”, declarou. Íntegra da nota da FMU Veja abaixo o comunicado divulgado pela universidade: "O Complexo Educacional FMU lamenta, com muito pesar, o ocorrido na noite de 23/08, no campus Itaim Bibi, com a aluna, Angelita Pinto Simões Caldas, do curso de Ciências Contábeis e presta os seguintes esclarecimentos:
· 19h15: Angelita chega ao campus para assistir aula. · 20h40: Após assistir a primeira aula, a aluna sai para o intervalo. · 20h45: No intervalo de aula, a aluna comenta com colegas de classe e com o professor que estava cansada, pois havia dormido pouco na noite anterior e relata ainda que tinha se alimentado de forma inadequada. · 21h: Todos os alunos retornaram para sala de aula, inclusive Angelita. · 21h37: Roberta Lima notou que sua amiga não estava passando bem. Nesse momento o professor foi ao encontro de Angelita e verificou que a mesma se encontrava em estado de mal súbito e imediatamente se deslocou para a administração do campus para pedir socorro. · 21h40. Foi acionado simultaneamente pela FMU o Corpo de Bombeiros, a Polícia Militar e o SAMU - Serviço de Atendimento Móvel de Urgência. · 21h51: O Corpo de bombeiro, que já estava no local, iniciou os primeiros atendimentos. · 22h05: Chegada do SAMU no local da ocorrência.
Toda a comunidade metropolitana está em luto, em respeito a perda de nossa aluna, Angelita Pinto Simões Caldas, e informa que está amparando seus amigos e familiares nesse momento de muita tristeza e dor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário