Força-tarefa criada pela DIG investiga no Vale do Paraíba o paradeiro de criminosos do Complexo do Alemão que fugiram do cerco policial no Rio de Janeiro
Uma força-tarefa liderada pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de São José dos Campos investiga o paradeiro de traficantes da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, que foram acolhidos pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) no Vale do Paraíba depois que as polícias Civil, Militar e Federal e as Forças Armadas ocuparam as favelas. Informações coletadas nos últimos dias pela equipe de investigadores dão conta que criminosos que conseguiram fugir do cerco policial na capital fluminense estariam escondidos em São José dos Campos, Taubaté e Caçapava. A operação da DIG conta com o auxílio do Exército, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal.
Os ataques no Rio tiveram início na tarde do dia 21 de novembro, em retaliação dos traficantes contra a instalação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em morros e favelas. Ao longo da semana, Marinha, Exército e PF se juntaram às forças de segurança do Estado do Rio no combate à onda de violência, que resultou em mais de 180 veículos incendiados. Duzentos policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) ocuparam a Vila Cruzeiro. Com a ação, alguns traficantes fugiram para o Complexo do Alemão, que também foi dominado pelos policiais. Somente nas favelas do Alemão existiriam 500 traficantes. O paradeiro da maioria ainda é um mistério.
No Vale do Paraíba, a Polícia Civil está em estado de atenção. “Temos informações que há três famílias de traficantes do Rio de Janeiro instaladas em chácaras em Caçapava e que foram acolhidas pelo PCC. Também há traficantes do Rio no Pinheirinho (acampamento sem-teto em São José) e em Taubaté”, disse um dos policiais civis envolvidos na investigação. “O que precisamos é que a nossa população faça o mesmo que a população do Rio de Janeiro está fazendo: denunciando. Só com a ajuda da população é que vamos conseguir vencer tudo isso”, afirmou.
Segundo ele, o grupo de policiais que trabalha na área de inteligência no Rio de Janeiro, além do Exército e da Marinha, tem trocado informações com a DIG de São José. “Estamos fazendo um trabalho de análise de pontos vulneráveis da região que podem ser pontos de recepção desses fugitivos do Rio”. Em São José, os pontos considerados críticos são o acampamento sem-teto Pinheirinho e o bairro Jardim São José 2, mais conhecido como ‘Cidade de Deus’.
Segundo Polícia Civil, o PCC está oferecendo proteção aos traficantes do Rio de Janeiro porque em 2006, quando a facção criminosa paulista deflagrou a onda de atentados em todo o Estado de São Paulo, o Comando Vermelho ajudou a esconder os principais suspeitos de planejar os ataques. Além disso, existiria no Estatuto do PCC, fundado em 31 de agosto de 1993 por oito presidiários no Anexo da Casa de Custódia de Taubaté, um acordo para receber membros do CV quando necessário.
Na região, a Polícia Civil procura pelos traficantes Luciano Martiniano da Silva, o “Pezão”, Emerson Ventapane da Silva, o “Mão”, Felipe Alan Marques da Silva, o “Playboy”, Carlos Orlando Messina Vidal, o “Chileno”, Marcelo da Silva Soares, o Macarrão, e Marcelo Lenadro da Silva, o “Marcelinho Niterói”. Para o especialista em segurança pública José Vicente da Silva Filho, se o PCC está de fato acolhendo traficantes do Rio de Janeiro em cidades do Vale do Paraíba, seria por uma espécie de “amizade” (leia entrevista nas páginas seguintes).
Reflexos
“Veja bem, dizer que podemos evitar que os problemas ocorridos no Rio de Janeiro não tenham efeitos aqui na nossa cidade é impossível porque eles vão acontecer. O que estamos preocupados é como resolver a partir do momento que eles começarem a refletir aqui, diante de nós. Com o aumento do tráfico, o aumento da criminalidade, o número de homicídios pode aumentar”, disse o delegado titular da DIG de São José dos Campos, Vernei Antônio de Freitas.
“A Polícia Civil trabalha com o crime já ocorrido [na investigação], mas diante dessa situação já estamos atuando na prevenção. Estamos com todo nosso pessoal na rua. Mudamos nossa tática, aumentamos nossas atenções. Hoje, a Polícia Civil de São José dos Campos está em estado de atenção”, disse Freitas à revista valeparaibano.
Há duas semanas o número de trabalhos na rua, com investigações na busca por criminosos, foi intensificado. “Nosso grupo de inteligência está todo interligado com o pessoal do Rio de Janeiro. O fato é que aqui é sim a rota de fuga desses marginais. Aqui é o principal eixo, de todo o país. São José dos Campos é uma cidade muito grande. Não estamos saindo com a viatura aleatoriamente, sabemos exatamente em quais os pontos que temos que atuar. E estamos atuando”, concluiu o delegado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário