Problemas antigos são desafios do novo governo
Eleito para o 3º mandato, Geraldo Alckmin acumula histórico de promessas não-cumpridas e críticas até de aliados políticos em áreas consideradas sensíveis, como Segurança Pública, Saúde e Educação
O médico anestesista Geraldo Alckmin (PSDB), 58 anos, assume o governo de São Paulo pela terceira vez nos últimos 10 anos com o desafio de eliminar os ‘gargalos’ nas áreas de Educação, Saúde e Segurança Pública. Eleito em outubro último no primeiro turno com 11,5 milhões de votos, Alckmin, que é de Pindamonhangaba, sabe bem das dificuldades que terá pela frente em seu retorno ao Palácio dos Bandeirantes. Afinal, participou das quatro gestões consecutivas tucanas no principal Estado da Federação, iniciadas em 1995 com Mário Covas, de quem foi vice até 6 de março de 2001.
Com a morte do titular, assumiu o governo, sendo reeleito em 2002 e comandando São Paulo até 31 de março de 2006, quando desincompatibilizou-se do cargo para a fracassada tentativa de chegar à Presidência da República. Após amargar um ostracismo político e o que reconheceu como sendo um período ‘sabático’, foi convidado em janeiro de 2009 pelo então governador José Serra (PSDB) para a Secretaria de Desenvolvimento. À frente de uma pasta de grande visibilidade, conseguiu aglutinar o apoio da grande maioria dos 645 prefeitos paulistas e disparou nas pesquisas de intenção de votos, garantindo sua candidatura no ninho tucano e sua vitória no ano passado.
Se por um lado conhece a fundo a máquina administrativa estadual e terminou suas duas gestões anteriores com alta popularidade, por outro Alckmin acumula um histórico de promessas não-cumpridas e críticas até de aliados por sua atuação em áreas sensíveis como Saúde, Educação e Segurança Pública. Consciente do ‘calcanhar de Aquiles’ que esses setores têm representado para os governos tucanos e da necessidade de melhorar o atendimento prestado à população, o novo governador promete um choque de gestão.
Durante a campanha eleitoral, e desde que foi eleito, ele tem sustentado que a Educação será a prioridade da nova administração. Para melhorar a qualidade do ensino, que tem deixado a desejar na comparação com outros estados brasileiros menores e menos ricos, Alckmin decidiu retomar programas bem-sucedidos de suas passagens anteriores pelo Palácio dos Bandeirantes, como o Escola da Família, e investir ‘pesado’ no ensino fundamental através da ampliação das escolas de tempo integral.
Para vencer o que não cansa de repetir que é uma batalha diária, promete ampliar em 6.000 o número de policiais nas ruas para diminuir os índices de homicídios, assaltos e roubos e assegurar mais tranquilidade à população. Já na área de Saúde, a aposta é na criação de novos hospitais públicos para garantir mais leitos e diminuir o tempo para atendimento.
Expectativa
O que esperar do novo governo? Ele será de continuidade, apresentará rupturas com o atual modelo, conseguirá solucionar os ‘gargalos’? Para responder esta pergunta, a revista valeparaibano consultou políticos do Vale do Paraíba, especialistas em Administração Pública e cientistas políticos.
“O Alckmin tem comprovada experiência administrativa, mas grandes desafios pela frente, principalmente na Educação e na Segurança Pública, que têm sido os calcanhares de Aquiles nestes 16 anos de governos do PSDB em São Paulo. E assume com uma cobrança maior da sociedade por ser a terceira vez que comandará o Estado”, pondera o professor dos cursos de mestrado e doutorado em Administração Pública e Governo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) em São Paulo, Mário Aquino Alves.
“Por tudo isso, a lua de mel vai ser curta e as cobranças por resultado para os problemas antigos muito maiores. O grande desafio é transcender o papel de gerentão e comandar o processo de transformação de São Paulo em um Estado ainda mais forte para os próximos 20 anos”, disse.
Embora tenha uma expectativa positiva em relação à nova administração de Alckmin, o professor de Ciências Políticas da Unitau (Universidade de Taubaté) José Maurício Cardoso Rêgo também cobra mais eficiência para a solução dos problemas recorrentes nos 16 anos de governos do PSDB.
“Os grandes gargalos continuam sendo nas áreas de Educação, Saúde e Segurança Pública, e o Alckmin terá que ter desta vez uma postura mais incisiva do que em suas gestões anteriores para resolver de vez esses problemas. Ele tem como trunfos a experiência administrativa e o fato de conhecer bem São Paulo, mas vai se deparar com grandes desafios e cobranças maiores por resultados”, analisa Cardoso Rêgo.
O cientista político da Unitau aponta as promessas não-cumpridas por Alckmin em seus governos anteriores, principalmente em relação ao Vale do Paraíba e Litoral Norte, como outro fator de possível desgaste para o novo governador junto à população. “O Alckmin foi governador duas vezes e não cumpriu promessas que fez durante a campanha, principalmente em relação à duplicação da Tamoios. Por ser da região e por ter de novo prometido de novo a obra na campanha do ano passado, desta vez ele terá uma cobrança muito maior dos políticos e moradores para realizar a duplicação. Se de novo falhar, poderá ter sua imagem desgastada e perder votos nas próximas eleições que disputar”, alerta Cardoso Rêgo.
Tamoios
Já entre os aliados de Alckmin no Vale, a expectativa é positiva, mas também não faltam cobranças por melhorias, como a duplicação da Tamoios, a ampliação do Porto de São Sebastião, o prolongamento da Carvalho Pinto até pelo menos Aparecida e a criação da Região Metropolitana.
“A expectativa é a melhor possível. Pela experiência administrativa que o Alckmin tem, pela vontade que tem demonstrado e por conhecer tão bem nosso Estado. Não tenho dúvida de que este governo será ainda melhor do que os anteriores. Confio no Alckmin e tenho certeza de que ele vai cumprir suas promessas de duplicar a Tamoios, ampliar o porto, prolongar a Carvalho Pinto e construir um hospital estadual em São José dos Campos”, salienta o deputado estadual eleito Hélio Nishimoto (PSDB), que é de São José dos Campos e assumirá o mandato na Assembleia Legislativa em março próximo.
Já o presidente da Frente Parlamentar em Defesa do Vale do Paraíba, padre José Afonso Lobato (PV), é mais crítico ao avaliar os desafios que Alckmin terá pela frente nos próximos quatro anos. Apesar de também integrar a base aliada e confiar na capacidade administrativa de Alckmin, o deputado de Taubaté considera que o modelo de governo do PSDB em São Paulo está esgotado e é necessária uma ação mais incisiva para solução dos problemas.
“Tenho uma expectativa boa, já que o Geraldo é competente e acredito que as pessoas amadurecem todos os dias. Como ele foi governador por cinco anos, acredito que aprendeu bastante e pode fazer um governo ainda melhor. Mas o Geraldo terá que reinventar o modo de governar São Paulo, já que estamos cansados da falta de criatividade das administrações do PSDB”, avalia padre Afonso. “Os problemas continuam, até porque o PSDB tem sido conservador para atacar os gargalos da Saúde, da Educação e da Segurança Pública. É preciso mudar essa postura para resolver de vez esses problemas e também para atender as demandas antigas do Vale, como a duplicação da Tamoios e a criação da Região Metropolitana.”
Cobrança
O deputado estadual oposicionista Carlinhos Almeida (PT), que assume mandato na Câmara Federal, também cobra uma nova postura do governo tucano. “Torço para que o governo do Alckmin seja bom e para que ele cumpra as promessas de campanha, principalmente a duplicação da Tamoios, para que nossa região e o Estado possam avançar. Mas é preciso uma nova postura, já que nesses 16 anos de governos do PSDB os problemas na Educação, Saúde e Segurança Pública não foram resolvidos e a população continua sendo a maior prejudicada”, destaca o parlamentar, principal liderança do PT no Vale.
Em suas gestões anteriores, Alckmin demonstrou capacidade administrativa, mas deixou de resolver problemas que atrapalham o desenvolvimento do Estado e afetam a qualidade de vida da população. A partir deste mês, terá nova chance de solucioná-los. Se conseguir, irá consolidar sua fama de gestor competente, escreverá de vez seu nome na história política do principal Estado brasileiro e poderá pavimentar o caminho para voltar a disputar a presidência da República em 2014. Se fracassar, poderá sofrer desgaste político e perder votos nas próximas eleições. Como será o novo governador Alckmin? Só o tempo dirá. •
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