Quem são? Onde, como e com quem vivem? Qual a cor da sua pele? Traçar uma radiografia do povo em um país com dimensões continentais, com uma forte miscigenação de raças, não é uma tarefa fácil. Em 2010, 230 mil recenseadores saíram em campo para obter o máximo de informações que pudessem revelar a 'cara' do Brasil.
Visitaram 67,5 milhões de domicílios em 5.565 municípios e contabilizaram 190,7 milhões de habitantes em toda a nação. E neste contexto o Censo trouxe ainda dados reveladores que estão diretamente relacionados ao povo sergipano. Você sabia, por exemplo, que Aracaju é proporcionalmente a terceira capital e a sétima cidade do Brasil com o maior número de mulheres em relação ao número de homens?
Pois é. A capital sergipana tem hoje 571.149 habitantes, dos quais 265.484 são homens e 305.665 são mulheres. Ou seja, aqui há 40.181 pessoas do sexo feminino a mais do que as do masculino. É bem mais mulher do que homem - e isto parece visível em seu dia a dia. No entanto, parte desse universo é formado por pessoas idosas. O Censo 2010 revela que, em Aracaju, há 31.608 mulheres com idades que variam dos 60 a mais de 100 anos, e apenas 20.279 homens - 11.329 mulheres a mais. Em Sergipe, ocorre algo semelhante. Dos 2,068 milhões de habitantes do Estado, 1,062 milhões são do sexo feminino e 1,005 milhões do sexo masculino. Uma diferença de 57,9 mil pessoas em prol das mulheres.
O fato de haver bem mais mulheres na faixa da madureza prova que os homens morrem mais cedo e por diversos fatores. Na adolescência e no início da vida adulta, a violência é apontada como a principal causa da morte deles. "O jovem do sexo masculino se expõe mais dirigindo, bebendo e se envolvendo em brigas, e acabam vítimas dessa violência", afirma Adriane Almeida, chefe do escritório do IBGE no Estado. É verdade.
Na idade adulta, as mortes são causadas pela falta de atenção à saúde. "As mulheres se preocupam mais com a saúde. Elas fazem o preventivo e aderem mais ao tratamento do que os homens. São mais disciplinadas. Os homens só procuram o médico quando adoecem e a maioria não segue à risca o tratamento", afirma a médica geriatra Juliana Silva Santana. É mais outra verdade.
IDOSOS
O resultado do Censo 2010 mostra ainda que a média de idosos no Estado - hoje eles são 185,9 mil - é menor do que a nacional. No país, mais de 10% da população é formada por pessoas com mais de 60 anos e em Sergipe esta média não ultrapassa 9%. Isto quer dizer que os idosos do Estado vivem menos que os demais? De acordo com Adriane Almeida, não, e os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD - mostra por quê.
Sergipe se destaca no Nordeste como o Estado que mais recebe migrantes. Essa migração atinge pessoas economicamente ativas, o que provoca um aumento da população nessa faixa etária e diminui a proporcionalidade de pessoas idosas. Outro fator que contribui para que a média de idosos seja inferior é a taxa de natalidade - mais de 2 filhos por casal, ou seja, a população do Estado não parou de crescer apesar de ter havido uma inversão da pirâmide etária. Hoje há mais idosos - 214.132 pessoas - do que crianças de 0 a 4 anos - 168.982.
O censo do IBGE revela ainda outras características do povo sergipano. A média de moradores por domicílio é de 3,48 pessoas e a imensa maioria da população mora em áreas urbanas (ver infográfico). No campo, os homens são maioria - 13,59% - e a presença feminina é maior nas zonas urbanas - 38,51%. "O trabalho na zona rural é mais braçal. As mulheres vão aos centros urbanos em busca de outras atividades e acabam empregadas no setor de prestação de serviço e no comércio", ressalta a chefe do escritório do IBGE.
Aracaju tem uma alta densidade demográfica
A evolução da população revela este adensamento nas áreas urbanas. Para se ter a devida noção, em 1872 quando foi realizado o primeiro Censo demográfico no país, 5,4% da população do Estado vivia na capital. Hoje este percentual aumentou para 27,6%, elevando a densidade demográfica de Aracaju. São 3,1 mil pessoas por quilômetro quadrado. Em São Domingos, por exemplo, esta não ultrapassa 100,23 pessoas por quilômetro quadrado.
E a densidade demográfica na capital deve continuar aumentando. Em 10 anos, desde a realização do Censo 2000, a população de Aracaju cresceu 10%. Em 1872, havia apenas 9.559 habitantes na cidade e hoje já supera os 571 mil. A segundo maior município de Sergipe, em termos populacionais, é Nossa Senhora do Socorro (ver box e mais dados no Caderno Municípios).
O Censo 2010 mostra que, apesar da forte influência dos negros na formação da sociedade, apenas 8,9% dos sergipanos se dizem negros - 184 mil pessoas. A maioria - 61,39% - se considera parda (ver infográfico). Os dados revelam ainda que no Estado há 5.053 pessoas com até 10 anos de idade sem o registro de nascimento e 292 mil não foram alfabetizadas.
Casais assumem relações homoafetivas
Quantos casais são formados por pessoas do mesmo sexo em Sergipe e no país? O questionamento foi feito pela primeira vez na história dos censos brasileiros e revelou um dado importante. No Brasil, mais de 60 mil casais admitiram que vivem uma relação homoafetiva.
No Estado, eles são 440. Para Rosa Reis, diretora-presidente do Movimento Lésbico de Aracaju Greta Garbo, estes números nem de longe refletem a realidade. "A maioria das mulheres lésbicas não se assume por causa da discriminação que é muito forte, tanto na família quanto na sociedade, ainda muito conservadora", afirma.
A militante do movimento usa dados de levantamento realizado entre as suas 1,6 mil filiadas para comprovar o que diz - 620 delas admitiram que são casadas com pessoas do mesmo sexo e algumas já adotaram filhos. Mas nem todas assumem isso publicamente para não sofrer discriminação.
Rosa Reis ressalta ainda que esta é maior se a família for de classe média ou média alta, e religiosa. "Elas sofrem agressões verbais até dos irmãos e muitas, depois de se formarem, deixam o Estado em busca de paz e felicidade", enfatiza. Para ela, esta dificuldade de gays e lésbicas em se 'assumirem' como tal tornam as estatísticas falhas.
Casa é moradia preferida do sergipano
Os sergipanos preferem morar em casa em vez de apartamento. Este foi o resultado a que chegou o Censo 2010 em relação aos domicílios particulares. No Estado, 90,39% das famílias residem em casas, 6,7% em apartamentos e 2,73% em condomínios ou casas de vila. Em 96,98% dos domicílios há banheiro ou sanitário e, em 39,49%, o banheiro ou sanitário estão ligados à rede geral de esgoto ou pluvial.
Outro dado chama a atenção. Em 97,27% dos domicílios sergipanos há energia elétrica, e 83,54% tem água fornecida por empresa de distribuição. Apenas 5,67% retira água de poço ou nascente. Além disso, 75,88% dos imóveis são próprios, 17,20% alugados e 6,47% cedidos. Em relação à destinação de resíduos, 83% são coletados e 16,99% dão outro destino ao lixo.
Onze municípios podem perder receita
O Censo 2010 expõe um dado que preocupa os gestores públicos. Onze municípios sergipanos perderam população, dentre eles, Santo Amaro das Brotas, Indiaroba e Feira Nova (ver infográfico). Esta perda pode significar uma redução na liberação de recursos oriundos do Fundo de Participação dos Municípios - FPM -, que é calculado com base no número de habitantes.
Para a chefe do escritório do IBGE, Adriane Almeida, este fenômeno pode estar relacionado ao fluxo migratório interno, uma vez que não houve redução no número de habitantes em Sergipe, cuja população foi maior do que a estimativa feita anteriormente pelo órgão.
"O que se percebe é que municípios mais desenvolvidos, com um comércio forte e um setor de serviço maior, se constituem num atrativo, e as pessoas acabam migrando em busca de trabalho", afirma.