Forças Armadas reforçam cerco a traficantes
RIO DE JANEIRO - Um contingente de 800 homens da Brigada Paraquedista Militar do Exército começou a se instalar ontem ao redor das favelas da Vila Cruzeiro e do Complexo do Alemão para criar um perímetro de proteção e controle de acessos em torno das duas comunidades.
A Vila Cruzeiro foi ocupada por forças policiais na quinta-feira, e cerca de 200 suspeitos de envolvimento com o tráfico que fugiram da operação policial partiram em direção ao Complexo do Alemão em busca de refúgio.
Segundo o chefe do Estado-Maior da Polícia Militar do Rio, coronel Álvaro Garcia, cerca de 200 homens do Bope (Batalhão de Operações Especiais) e das Polícias Civil e Militar participaram ontem de operações na Vila Cruzeiro.
De acordo com as autoridades do Rio, 45 pessoas foram mortas nos confrontos registrados na cidade desde o último domingo. A Polícia Militar diz que três pessoas morreram nos choques de ontem - o que aumenta para 34 o número de mortos nas operações da PM.
A Polícia Civil afirma que outros sete criminosos morreram nos confrontos. Outras quatro pessoas teriam morrido em decorrência de balas perdidas durante as trocas de tiros.
Desde o último domingo, segundo a polícia, 197 pessoas foram presas e 96 veículos, incendiados.
O governo estadual diz que a onda de violência na cidade é uma reação à política, em vigor desde 2008, de ocupação policial de áreas antes dominadas por criminosos.
Ações militares
Além dos 800 homens do Exército envolvidos no cerco ao Complexo do Alemão e à Vila Cruzeiro, a Marinha e a Aeronáutica contribuem com veículos blindados e helicópteros para transporte.
Encarregado da operação do Exército, o chefe do Comando Militar Leste, general Adriano Pereira Júnior, disse que 60% dos militares empregados no Rio participaram de operações no Haiti e têm experiência em áreas urbanas.
O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que o reforço oferecido pela tropa será fundamental para que policiais militares e civis possam ser deslocados para outras operações.
"Isso permite a liberação de grupos importantes de policiais para participar de outras ações que ainda vão ser realizadas", disse Beltrame.
Cooperação
Na tarde de ontem, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, se reuniu com Beltrame e o governador do Rio, Sérgio Cabral, para estabelecer os termos do acordo de cooperação das Forças Armadas na luta contra o tráfico no Estado.
"Cabe ao governo federal suprir as eventuais deficiências que forem sentidas pelos Estados e, neste caso, ficou claro que, além dos blindados que foram disponibilizados, havia a necessidade de ceder 800 homens, praticamente um batalhão, para a proteção do perímetro no qual as forças do Estado avançaram", disse Jobim.
"Cabe ao governo estadual definir quais são as áreas conflagradas onde operações são necessárias, e ao governo federal atender aos pedidos de apoio", acrescentou o ministro, frisando que o pedido de Cabral para o reforço do efetivo contou com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Jobim afirmou ainda que o atual momento vivido no Rio é sinal de uma mudança de paradigma em relação a parcerias entre as Forças Armadas e as polícias estaduais e federal.
"Nós já vivemos momentos em que havia um atrito entre as diferentes esferas", disse o ministro. "Esse tempo passou."
Dia histórico
Cabral também definiu o momento como um dia histórico e se referiu à cooperação entre as Forças Armadas e civis como uma "irmandade".
De acordo com o governador, o fato de sua solicitação por apoio logístico ter sido atendida prontamente pelo Ministério da Defesa – com a cessão dos tanques blindados da Marinha, que foram usados na incursão na Vila Cruzeiro – foi essencial para garantir o êxito da operação que ocupou a favela na quinta-feira.
Cabral disse ainda que o novo acordo será de enorme importância para o trabalho que as forças de segurança vêm desenvolvendo no Estado.
"Isso é fundamental para que a população do Rio possa ver que o que acontece agora não é mais um confronto nem mais um capítulo que se esvai com o tempo, e sim uma política de segurança articulada e fundamentada, que permitirá a paz e a tranquilidade tão esperadas", afirmou.
Vários feridos em operação
RIO, (AG) - O confronto no Conjunto de Favelas do Alemão, na Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, deixou, ao menos, cinco pessoas feridas até a noite de ontem. Homens do Exército permaneciam na região por volta das 20h. Uma pessoa foi presa.
Entre as vítimas há uma mulher de 61 anos, que foi baleada no abdômen; um soldado do
Exército, que tomou um tiro de raspão; uma criança de 2 anos atingida de raspão no braço esquerdo; um homem que estava refugiado num bar e foi ferido no abdômen; e o fotógrafo da Reuters Paulo Brandão Whitaker, de 50 anos.
O motorista que estava com Whitaker também foi ferido. De acordo com a assessoria de imprensa do Hospital Pasteur, no Méier, para onde os dois foram levados, o motorista já teve alta e o fotógrafo segue internado no CTI, por precaução, após uma crise hipertensiva.
A operação levou a uma intensa troca de tiros entre Exército e traficantes. Cerca de 780 soldados foram deslocados para as áreas de conflito na região do bairro da Penha. Eles foram cedidos pelo Ministério da Defesa para auxiliar no combate à onda de violência na cidade. Desde segunda-feira, 34 pessoas foram mortas na onda de ataques, de acordo com um coronel da PM.
A Polícia Civil prendeu um homem apontado como traficante de drogas no Alemão. De acordo com os policiais, o suspeito é da Favela da Mangueira, mas estava escondido no morro.
Trabalhadores fogem
Operários, fugindo de tiroteio no Morro do Alemão, tiveram que deixar a região dentro de um blindado. Os funcionários da prefeitura estavam realizando serviço no sistema de iluminação da comunidade. O grupo teria sido levado para o 16º Batalhão da Polícia Militar, em Olaria.
Os soldados do Exército começaram por volta das 15h de ontem a chegar ao conjunto de favelas do Alemão e à Vila Cruzeiro. A Polícia Civil também faz operações na Vila Cruzeiro, na Penha, e, de acordo com o delegado Márcio Mendonça, da Delegacia de Roubos e Furto de Automóveis (DRFA), até as 16h de ontem, os policiais tinham apreendido no local 240 motos – 40 estavam queimadas.
Três helicópteros do Exército, com capacidade para transportar de 12 a 16 homens, além de armamento, estão sendo usados nas operações.
Um tenente do 16º BPM (Olaria) foi baleado na tarde de ontem durante uma operação no Morro da Chatuba, no Conjunto de Favelas da Penha. De acordo com a polícia, o militar foi atingido na panturrilha esquerda e passa bem.
Um princípio de incêndio atingiu uma subestação de energia próxima à estação de trens de Benfica. Até o fim da tarde, não havia informação sobre presos.
Caminhão queimado
Um caminhão-baú foi incendiado perto da Rua Castello Branco, na Penha. Segundo informações da corporação, não houve feridos. Os bombeiros não souberam informar se o incêndio foi criminoso.
A polícia encontrou um tucano durante a varredura na Vila Cruzeiro. A ave estava na casa do chefe do tráfico na comunidade e acusado de ser o responsável pela queda de um helicóptero da polícia ano passado no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, também na Zona Norte do Rio.
Beltrame: passo importante
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A ocupação pela polícia da favela Vila Cruzeiro, reduto-chave de traficantes no Rio de Janeiro, representa um importante passo na ofensiva contra as ações de criminosos cometidas nos últimos dias, afirmou o secretário de Segurança Pública do Estado, José Mariano Beltrame.
Veículos blindados da Marinha e fuzileiros navais participaram, pela primeira vez, de uma megaoperação policial na quinta-feira contra o crime organizado, levando à fuga de criminosos do local.
"Se tirou dessas pessoas o que nunca foi tirado, que é o seu território. Se tirou dessas pessoas o que eles chamavam e consideravam porto seguro; faziam suas barbaridades e correm covardemente para o seu reduto protegido por armas de guerra", afirmou o secretário a jornalistas após a ação policial.
O Rio vive, desde domingo, uma onda de violência em que criminosos têm colocado fogo em veículos nas ruas e atacado alvos policiais. Os confrontos entre traficantes e a polícia já deixou mais de 30 suspeitos mortos.
Ao menos 10 veículos militares blindados da Marinha com metralhadoras, que nunca foram usados nos combates em favelas da cidade, transportaram soldados do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) para o interior da favela. Blindados do Bope, conhecidos como "caveirão", também foram utilizados.
Imagens aéreas de tevê mostraram dezenas de traficantes armados fugindo da Vila Cruzeiro a pé, de moto e de carro, por uma estrada de terra que leva para o Complexo do Alemão.
Decisão
“Quando nós tivemos a notícia da possibilidade de utilização dos blindados, imediatamente a decisão de ir à Vila Cruzeiro foi tomada, porque a gente sabe que as informações vindas de casas prisionais vêm à Vila Cruzeiro, e da Vila Cruzeiro são capilarizadas para várias áreas da cidade e do Estado", afirmou Beltrame.
O secretário reconheceu, no entanto, que apesar de ter sido dado um passo importante, não há nada a comemorar. "Isso só nos diz que nós devemos ir em frente", afirmou.
Segundo as autoridades, a Polícia Militar não sairá do local. Beltrame afirmou ainda que ontem seriam realizadas novas ações, mas que por razões de estratégia não poderia dar detalhes.
Lula: ‘ajuda dentro da lei’
BRASÍLIA e GEORGETOWN, Guiana (BBC Brasil) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse anteontem que apoiará o governo do Rio de Janeiro em tudo que estiver "dentro da lei" para conter a violência na cidade e permitir que as pessoas "vivam em paz".
Antes de viajar à Guiana, onde iria participar ontem da 4ª Cúpula de Chefes de Estado e Governos da Unasul, Lula autorizou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a enviar reforços para ampliar a proteção das áreas que foram invadidas pela polícia em Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio.
Logo depois de chegar a Georgetown, o presidente relatou que conversou com o governador do Rio, Sérgio Cabral e disse que fará de tudo para que as "pessoas de bem" no Rio, vivam em paz.
"Tudo que ele precisar, que estiver dentro da lei e o governo federal puder fazer para ajudar o Rio de Janeiro, nós faremos", afirmou.
"Não é humanamente explicável que 99% de pessoas de bem, trabalhadoras, que querem viver em paz, sejam molestadas por gente que está na marginalidade", acrescentou Lula, em uma breve entrevista a jornalistas.
Exército
De acordo com o Ministério da Defesa, foram enviados 800 efetivos do Exército, dois helicópteros da Força Aérea e dez veículos blindados.
Equipamentos de comunicação entre aeronaves e tropas em solo, e óculos para visão noturna serão fornecidos temporariamente.
Mais cedo, cerca de 400 policiais haviam participado de uma operação na Vila Cruzeiro, favela no bairro da Penha (zona norte do Rio) e um dos principais redutos da facção criminosa Comando Vermelho.
Ao fim da operação, imagens gravadas de um helicóptero mostraram cerca de 200 homens armados fugindo para uma favela vizinha, o morro do Alemão.
Na operação, os policiais contaram com seis veículos blindados da Marinha e outros seis da PM.
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, disse na quinta-feira que a principal meta das operações policiais em curso no Estado é controlar o território dominado por traficantes de drogas.
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