“Por volta das 17h30, a guarnição foi solicitada via rádio e informada que um homem estava traficando drogas no ‘Gogó da Ema’. Quando os policiais chegaram ao local, constataram que se tratava de um menor de alcunha R. A. S. Ele estava com pedra de crack e R$ 36 em dinheiro. O mesmo foi conduzido à delegacia local para medidas cabíveis”. Ocorrências como essa registrada recentemente na delegacia de Propriá, a 98 quilômetros da capital, têm sido mais do que comum nos municípios do Baixo e do Vale do São Francisco. A região está dominada pelas drogas e pela violência, esta praticada muitas vezes por adolescentes.
Cada vez mais novos, os jovens organizam-se em grupos, alguns deles armados. Travam guerras particulares a qualquer hora do dia ou da noite, sem escolher lugar. Vítimas inocentes acabam no meio do fogo cruzado. Em Brejo Grande, distante 137 quilômetros de Aracaju, o irmão da dona de casa Heloísa da Conceição dos Santos, 53 anos, foi o escolhido daquele fatídico dia. “Por causa de R$ 8 que tentaram roubar do meu irmão e ele não deu, deram três facadas nele, uma na nuca e duas no peito. Foram dois assassinos, mas apenas um está preso, porque o outro era menor de idade e está aí solto”, relata.
Também em Brejo Grande, a pescadora Evanira da Silva Ferreira teve o seu marido morto a pauladas por um jovem que ainda se encontra foragido. “Foi no dia 25 de novembro do ano passado. Estava na época do defeso da pesca, aí ele tava criando corvos no armazém. Teve um dia que ele me avisou que esse rapaz, que era de carreira (fugitivo), estava frequentando lá também, e eu disse para ele tomar cuidado. No outro dia, esperei ele chegar e nada dele voltar para casa. Fiquei desesperada e saí para procurá-lo, quando cheguei lá vi que tinham matado ele”.
Viúva há quase um ano, dona Evanira não se conforma com o ocorrido, principalmente pelo fato do assassino estar impune. “Meu marido era uma pessoa que não tinha malícia e nem maldade com ninguém. Uma vez o bandido pediu comida e o meu esposo ofereceu a marmita dele e almoçaram juntos. Chegou em casa ele me contou isso. Acho que não esperava que fosse matá-lo. O bandido deu várias pauladas na cabeça dele, bem na hora que estava se preparando para vir embora pra casa”, relembra a pescadora com os olhos marejados.
Sem filhos e com bastante saudades, dona Evanira ainda clama por Justiça. “Prestei queixa e o delegado disse que ia pegar ele, mas até hoje está aí solto. Têm uns 15 dias que eu o vi andando por aqui em Brejo Grande. Está solto e eu com medo. O pior é que estou recebendo telefonemas anônimos. Não quero nem mais sair de casa. Queria o meu marido de volta. Era só nós dois em casa e agora estou sozinha”, lamenta a viúva, sem conseguir conter as lágrimas.
Propriá
Os adolescentes também agem sem dó, nem piedade, em Propriá. O alvo principal deles são os comerciantes. “Tem que ter muito cuidado com esses garotos, pois como sabem que não podem ser presos, não têm medo de nada. Às vezes a polícia até apreende, mas no mesmo dia solta, aí eles voltam a roubar. Por conta disso, muitas casas comerciais estão sendo arrombadas por esses meninos. A gente não sabe mais o que fazer. A insegurança está demais em todo o Estado e aqui no nosso município está lamentável”, critica o dono de uma loja de material de construção, Fábio Góis Costa, que já foi assaltado cinco vezes.
“O último aconteceu há uns 15 dias. Eles arrombaram a porta e levaram o dinheiro. Nas outras quatro vezes levaram, além da renda, celulares e computador. Na terceira vez, meu sobrinho ainda conseguiu pegar um garoto roubando de madrugada a nossa loja. A polícia veio, levou ele, mas não foi feito nada, porque ele era de menor. Temos que pedir a Deus para que nos proteja, porque esse ladrões são crianças que não param de roubar e não podem ser presos. Tudo isso é proveniente das drogas que essa garotada está usando abertamente”, opina Fábio.
A comerciante Rose Guimarães Bomfim, dona de uma loja de auto peças, foi mais uma vítima desses pequenos ladrões. “Foi de madrugada, quando estávamos dormindo. O telefone de lá de casa tocou e era meu funcionário avisando que a loja tinha sido arrombada. Chegamos ao local e a polícia já estava com um dos garotos na mala do carro. Eram três meninos, mas os outros fugiram. Levaram cinco toca CDs e ainda conseguimos recuperar quatro”, conta.
Rose reclama da falta de uma medida enérgica do próprio Ministério Público para que punam esses adolescentes que infringem a lei. “O que a gente fica sem entender é que o que conseguiram apreender, no mesmo dia foi liberado. Pega e não acontece nada. Eles nem têm medo. Eu acredito que deve ter uma pessoa adulta conduzindo esses garotos”, comenta a comerciante.
Ilha das Flores
Em Ilha das Flores, os mototaxistas são as vítimas preferidas dos assaltantes. “Acontece muito na estrada que passa pelo povoado Boulevard. Eles ficam escondidos em cima de um muro que tem lá, aí quando alguém passa de moto, eles abordam. Recentemente, um rapaz que vende cigarro foi assaltado e eles levaram a mercadoria toda. Muitas vezes eles investigam e ficam de olho na pessoa. São maconheiros que roubam para comprar drogas”, diz o mototaxista Danilo Gomes.
O estudante Geová Ferreira revela que a incidência de crack e maconha no município em que vive está muito alta. “Aqui em Ilha das Flores está demais. Às vezes são colegas nossos que se envolvem com essas coisas. Têm muitos jovens daqui que já estão até vendendo. Eles andam pela cidade na maior facilidade e vendem muito. O problema todo no nosso município é essa droga que está entrando. Aí começam as brigas, os roubos e sempre acaba tendo morte”, avalia.
Para Danilo e Geová, falta policiamento na cidade. “Os policiais só passam pelas ruas de vez em quando. Se você procurar a delegacia para dar parte de alguma coisa, eles mandam ir para Brejo Grande. Aí é muito longe, principalmente para as pessoas que não têm condições. Ficamos aqui sem saber o que fazer, a quem pedir ajuda”, lamentam.
Santana do São Francisco
A cidade da cerâmica, Santana do São Francisco, a 132 quilômetros de Aracaju, também vem sofrendo bastante com a disseminação das drogas na região. A delegada do município, Michele Araújo dos Santos, atribui esse crescimento pelo município fazer fronteira com o Estado de Alagoas. “Isso facilita ainda mais a entrada dessas substâncias ilícitas. Aqui tem as lanchas e as balsas que vão e voltam livremente, sem nenhum tipo de fiscalização, e não tem nem como ter, porque não dispomos de policiais”, explica.
Segundo Michele, o efetivo pequeno dificulta bastante a ação da polícia. “É de conhecimento público que há a deficiência de policiamento em toda cidade, então para investigar a questão das drogas, nós precisamos de agentes que possam ficar dedicados a aquele caso. Nós temos uma captura composta de apenas três homens que é dividida em Santana do São Francisco e Neópolis. Temos apenas esses policiais para fazer tudo”, justifica.
Apesar das dificuldades, a delegada afirma que Santana do São Francisco está com a violência controlada. “A cidade é muito pequena e a maioria dos casos é crime de menor potencial ofensivo. Aqui acontece assim: passa um tempo e não tem nada, aí quando tem, se a polícia não atuar logo e começar a reprimir aquele tipo de conduta, o negócio vai crescendo. É exatamente isso que a gente está fazendo. Então, se acontece algo, a gente imediatamente vai atrás para tentar dar uma controlada na criminalidade. Este ano, já estamos em outubro e não tivemos nenhum caso de homicídio até agora. Esperamos continuar assim”, fala Michele.
Infância sem prioridade
Ao se avaliar o perfil dos adolescentes privados de liberdade que estão internados na Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (USIP) e no Cenam, em Aracaju, é possível perceber que não existe um determinante para que esses meninos entrem em conflito com a lei. O que existem são vários fatores que, sozinhos ou combinados, levam os jovens a infracionarem, tais como: famílias desestruturadas e de baixa renda, uso de álcool e drogas, necessidade de sair da invisibilidade e de se proteger, baixa escolaridade resultando em baixos salários por total falta de qualificação profissional.
“O Estado não prioriza orçamentariamente a criança e o adolescente, como obriga a lei. É preciso mais prática. O que me preocupa é o número de analfabetos funcionais que temos. Temos que melhorar a qualidade da nossa educação e a política de saúde tem que universalizar mais ainda e aplicar o SUS (Sistema Único de Saúde). Além disso, temos que trabalhar a Política de Assistência Social, implementar o CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), o CREAS (Centro de Referência Especializada) e começar a fortalecer os Fundos Municipais e Estaduais da Criança e do Adolescente”, informa o presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA), Tiago Oliveira.
Para punir de forma correta e humana, sem superlotar o Cenam, em Aracaju, ele ainda sugere que seja feita a municipalização das medidas socioeducativas. “Os adolescentes em conflito com a lei poderiam estar cumprindo pena sem sair do seu município. O juiz encaminharia para uma Liberdade Assistida (LA) ou Prestação de Serviço à Comunidade (PSC), e o Estado teria um custo bem menor e um atendimento de qualidade”, avalia Tiago.
Neste sentido, a iniciativa representa a coragem e a responsabilidade do poder público de reconhecer os princípios dos direitos humanos, como fundamentos políticos, sociais, econômicos e culturais, conforme previsto no ECA, possibilitando aos adolescentes, autor de ato infracional, o exercício pleno da cidadania e, consequentemente, a possibilidade de superação da condição que o levou a cometer o ato, minimizando a situação de vulnerabilidade social.
Aposentados são alvos dos marginais
Em Neópolis, população relata vários casos de velhinhos que foram vítimas da ação dos bandidos.
Os aposentados moradores de Neópolis estão sendo por diversas vezes vítimas dos bandidos. A desempregada Ednalva da Silva garante conhecer muitas histórias de idosos que foram enganados e conta um dos casos. “Teve uma vez que uma senhora pediu ajuda a um rapaz para conseguir sacar a renda dela. Ele a ajudou e depois disse que o cartão dela estava inválido e ela tinha que entrar para falar com o gerente. A coitada acreditou e quando ela saiu, ele pegou o dinheiro do cash, colocou no bolso e foi embora”.
“Isso é um tipo de segurança que também precisamos. Os bancos devem, pelo menos, colocar um funcionário para ajudar esses aposentados e pare de acontecer isso. Neópolis está sem tranquilidade. Não temos segurança para nada. Quando você pensa que aquela pessoa é sua amiga, sempre se engana, não é nada daquilo que você imaginava. Muitas vezes vendem drogas, roubam carros, estão envolvidas com o crime de alguma forma”, acrescenta Ednalva.
A desempregada atribui toda essa violência que impera em Neópolis à falta de união dos políticos que fazem parte do seu município. “Eles deveriam era se unir, pensar na população e tomar conta melhor da cidade que está abandonada. Outro agravante também é a baixa escolaridade. É preciso ter um ensinamento melhor nos colégios para que essas crianças que estão se tornando adultas tenham orientações para não entrar em contato com as drogas que estão invadindo a região”, sugere ela.
Segundo Ednalva, os policiais até que estão tentando fazer com muita competência o seu trabalho, porém é preciso um apoio maior do Estado. “O policiamento é exemplar. Eles ficam em cima, tanto que estão pegando muitos bandidos, mas é difícil controlar, porque a quantidade de policiais é pouca para o número de marginais que tem e para controlar o tráfico de drogas. Imagine ainda proteger esses aposentados que estão recebendo vários golpes. É uma tristeza”.
O aposentado Sebastião Pereira dos Santos, 69 anos, nunca foi vítima desses malfeitores, mas muitos dos seus amigos já caíram nas garras desses bandidos. “É muita maldade. Eu não facilito e procuro me dar segurança, colocando grades e alarme na casa toda. Quando vou ao banco não aceito ajuda de ninguém. Eu sou um pouco mais desenvolvido e fico mais esperto na hora de tirar dinheiro. Não sou enganado por bobagem. Tem que ser inteligente”, aconselha.
Sumiço de pescadora deixa família em desespero
A tesoureira da Colônia de Pescadores Z-16, Maria Roziana Barreto dos Santos, 38 anos, desapareceu misteriosamente do município de Brejo Grande desde o último dia 2. A família está desesperada com o sumiço da pescadora que deixou o marido e cinco filhos. “Estamos sofrendo muito. Eu mal sei fazer o meu nome. Tudo tinha que ser com ela. Eu e os meninos precisamos dela. Queremos que volte para casa”, implora o marido, o pescador Damião Santos de Sousa, 46 anos.
“Não sei por que ela sumiu desse jeito. Ela não tinha nenhum problema em casa. Já andamos atrás dela nas ruas, conversamos com o delegado e cada um está fazendo a sua parte. Nós não temos parado um só minuto. A nossa esperança é a de achar ela viva. Os nossos filhos choram o tempo todo. Se alguém tiver alguma notícia, por favor, nos avise”, pede Damião.
A prima da desaparecida, a pescadora Tercília Cabral Borges, 35, dá detalhes de como foi a última vez que a família viu Maria Roziana. “O último a vê-la foi o filho dela. Ele contou que, na sexta, à noite, ela saiu de casa dizendo que ia à casa de um amigo e pediu para não falar nada para ninguém. Inicialmente, a família pensava que ela estaria com a mãe ou com a filha que moram em Ilha das Flores, pois é comum ela ir para lá nos finais de semana. Apenas na segunda-feira que vieram saber que ela não tinha aparecido por lá”.
O presidente da Colônia de Pescadores Z-16, Flávio Hipólito dos Santos, revela que 15 dias antes do sumiço, Maria Roziana havia sido roubada dentro da sua própria casa e o ladrão levou uma quantia de R$ 3 mil que pertencia à Colônia. “Ela estuda à noite e quando estava na escola, o filho dela foi avisar que tinham entrado na casa deles e revirado o quarto dela todo. Levaram a câmara fotográfica, peças íntimas e o dinheiro da colônia. Ela prestou queixa na delegacia e agora some!”, indaga.
Flávio diz que está muito preocupado como vai reaver o dinheiro roubado, uma vez que terá que prestar conta no próximo dia 24 de outubro. “Estou aflito com ela primeiramente e sem saber o que fazer na hora de dar satisfação aos associados. Estamos sem tesoureiro que é a mola mestre para mexer com o dinheiro, aí está complicado. Queremos que ela volte ao trabalho”, afirma o presidente.
O JORNAL DA CIDADE tentou ligar por várias vezes para a delegacia de Brejo Grande, mas ninguém atendeu ao telefone. Quem tiver alguma informação sobre Maria Roziana Barreto, pode entrar em contato com o presidente da Colônia de Pescadores Z-16, Flávio Hipólito, através do número 8808-4926, ou com a prima Tercília, pelo celular 9818-1555.
Crack em Estância
Na edição passada, a reportagem da série ‘Violência nos Municípios’ relatou o drama dos moradores da região Sul de Sergipe em relação à falta de segurança. Na última quinta-feira (8), uma operação realizada pela Polícia Civil do município de Estância resultou na apreensão de drogas e nas prisões de Gilvania Alves Corrêa, 35, conhecida como “Galega”, e do deficiente físico Domingos da Conceição, 77. As prisões foram realizadas no bairro Bomfim.
Após investigação que possibilitaram a identificação e localização de dois pontos de venda de
drogas, policiais civis, sob o comando do delegado João Eduardo, realizaram a abordagem e conseguiram apreender uma quantidade de maconha acondicionada em duas sacolas plásticas, além de dez trouxinhas e 15 charutos da droga prontos para a venda, bem como duas pedras de “crack”, uma balança e uma pequena porção de um pó branco, semelhante a cocaína.
Todo material estava em poder de Gilvânia. A polícia investiga ainda a participação de outras pessoas que junto com a acusada realizavam esse comércio ilegal. Já Domingos, que costumava esconder substâncias entorpecentes nas roupas, foi surpreendido pela polícia na mesma operação.
“Ele achava que pelo fato de ser deficiente não levantaria suspeita. Com ele encontramos uma quantidade de maconha acondicionada numa sacola plástica e quinze trouxinhas da mesma substância prontas para a venda, além de dinheiro proveniente do comércio ilícito. Ele tem passagem pela polícia, pois já foi preso anteriormente pelo mesmo crime”, explicou João Eduardo.
Outra prisão
No mesmo dia, um adolescente de 16 anos foi apreendido por policiais de Estância. O jovem vinha cometendo inúmeros atos infracionais relativos a furtos no município. O adolescente já respondeu a 14 procedimentos investigatórios e alguns ainda estão em andamento.
Ele tinha preferência por furto de motocicletas. Com o adolescente foi encontrado uma chave micha. Ele também furtava vídeo games, bicicletas e arrombava lojas de roupas. O procedimento foi instaurado e o menor foi encaminhado ao Centro de Atendimento ao Menor (Cenam), onde cumprirá a medida provisória pela terceira vez.
05/11/2010
O CRACK JÁ TOMOU CONTA DE SERGIPE E ESTA DEIXANDO SUAS MARCAS. AS AUTORIDADES FAZEM DE CONTA QUE ESTÃO TOMANDO PROVIDÊNCIAS QUANDO NA REALIDADE NADA ESTA SENDO FEITO, A NÃO SER A PRISÃO DE "ALGUNS TRAFICANTES". ISSO NÃO E COMBATE AS DROGAS!COMBATE AS DROGAS SE DA EM TODAS AS FRENTES, EM ESPECIAL NA PREVENÇÃO!!!ALÔ MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, ESTADUAL E JUSTIÇA, O CRACK PRECISA SER CONTROLADA, CHEGA DE OBA OBA!
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